Domingo, 03 de outubro, ela encontra o mar. Observa-o a distância, seu movimento, suas idas e vindas, porém não se envolve. Caminha em direção a ele, põe os pés, toca com as mãos, mas não sai da beira. É convencida a ir mais adiante, seus pés meio que travam, já conhecia o que havia lá, já havia experimentado.
Então vai.
Perdendo aos poucos o receio de estar errada,
Há quanto tempo não ia lá...
Então volta.
Estou de roupa! Exclamou e novamente sentou na arreia hipnotizada pelo balanço das ondas e por toda aquela imensidão perdida na madrugada.
E mais uma vez os dois sentam ao lado dela e tentam convencê-la “Só um mergulho, vai ser bom” dizia o casal. E ela depois de muita insistência é tomada por um súbito ato de coragem, resolve ir. Tira a roupa que a cobria e vai apenas de peças íntimas em direção ao mar.
Então, você pensa que ela correu e mergulhou? Não. Ela mais uma vez hesitou. Correu ao mar, mas ao entrar foi caminhando cautelosamente, entrou, mas não mergulhou. O que há? Não sabia...estar ali já não era o suficiente? Olhava o céu estrelado...
Lady!
Lady!
Você precisa mergulhar! Submergir para renascer, para purificar...
As vozes em duo.
E ela foi, gostou e perdeu o medo, esqueceu do mundo e dos que estavam com ela. Naquele momento era só ela e o mar. Seus cabelos molhados...fechava os olhos e sentia as ondas acariciarem seu corpo, tudo agora fazia sentido.
A madrugada avançava e tiveram que sair. Passou-se o dia, e a noite veio a cair novamente. É chegada a hora de partir, se despedir do mar. Olhava pra ele, olhava lá adiante o horizonte, as luzes da cidade Salvador...
Ela então começou a chorar. Lágrima por lágrima iam molhando sua face, desciam salgadas como o próprio mar, incessantes como as ondas. Assim, sem conseguir contê-las, foi percebida e questionada.
Porque choras?
E as lágrimas silenciosas foram ganhando espaço maior em sua face...
Porque choras assim?
Repedidas vezes foi perguntado, mas ela não sabia como responder. Não podia. As lágrimas eram dela, vinham de dentro dela, como poderia dizer? Pressionada foi a esclarecer o motivo daquela invasão sorrateira de tão salobro líquido que derramava dos seus olhos. Sua garganta não aguentou mais segurar e gritou. Seu choro era tão intenso, tão profundo e dolorido, lhe doía tudo por dentro. De onde vinha aquela dor? Queriam saber, mas só ela conhecia , era dela e de mais ninguém. E se perguntava “Lágrimas reticentes, porque retornas?”
A verdade é que elas nunca haviam sumido por completo, sempre estiveram presentes dentro dela e naquele momento extravasou por estarem contidas já há algum tempo.
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